Provocações
POV Albus
O silêncio parecia perfurar meu ouvido. O chão pareceu sumir sob meus
pés e a única coisa que pensei foi no papai. Raciocinei que todos naquele Salão
deviam estar me olhando. O mundo parecia estar sobre mim, desabando pouco a
pouco enquanto olhava minha família e os via me olhando tristemente.
– Al... - Lily foi a única capaz de me olhar sem demonstrar raiva. – Nós
concordamos...
– Eu não coloquei meu nome. – respondi, meio alterado, olhando para
Dominique. - Dominique, eu juro que não pus meu nome lá.
Ela balançou a cabeça em negação e seus olhos se viraram para a mesa,
permanecendo ali. Quietos e magoados.
– Albus Potter. – McGonagall repetiu e minha cabeça se virou lentamente
na direção da Prof. McGonagall. – Estamos aguardando.
Eu não conseguia movimentar meu corpo. Parecia que alguma coisa me
grudava ao banco e eu sabia o que era: medo. Não conseguia compreender como meu
nome fora parar lá e nem a razão. Quem estaria tentando me prejudicar? E por
quê?
O que eu tinha feito de tão errado para merecer aqueles olhares de
desprezo de meus colegas e pior, de minha própria família? Estavam magoados
comigo e eu não havia feito nada!
Consegui me levantar, mas meu corpo não ficou ereto. Meus ombros
curvados para frente, como se eu aguentasse o peso do mundo nas costas. Será
que meu pai se sentira assim também? Sentira o clima tenso no ar, com todas as
cabeças virando-se para olhar, ouvindo os burburinhos correndo como faíscas
pelo salão? Sentira-se assustado, acuado, como eu me sentia naquele momento?
Aumentei o passo não querendo ouvir o que as pessoas diziam. Entrei na
pequena sala que estava mais aquecida e os três Campeões me olharam sem
entender.
– O que está fazendo aqui? – Malfoy grunhiu para mim. O ignorei
caminhando em direção a Rose.
– Rose, eu juro que eu não me inscrevi! – estava temeroso em olhar em
seus olhos, mas o fiz, mesmo com medo de ver rejeição e repulsa ali. Mas Rose,
minha melhor amiga depois de tanto tempo, apenas tinha os olhos preocupados.
– Eu acredito em você Albus. É claro que acredito. – ela revirou os
olhos, como se aquilo fosse óbvio. Quase suspirei de alívio, mas uma pontada de
culpa pincelava minha mente.
– Dominique... Ela ficou muito chateada.
– O sonho dela era entrar para o Torneio, Al. Mas não se preocupe, em
algum momento ela vai perceber a enorme injustiça que um filho da puta fez
contigo! – sorri, me sentindo um pouco mais relaxado.
– Tsc tsc tsc, querendo imitar a glória do papaizinho, Potter? –
provocou uma voz, e não foi necessário virar minha cabeça para saber quem
falara aquilo. Suspirei irritado, sabendo que teria que aguentar aquilo não
somente do Malfoy, mas também de todos da escola.
Antes que eu resolvesse pular em cima do filhote de doninha, Rose
arregalou os olhos, e apontou para a cabeça do Malfoy.
– Scorpius, tem um chiclete no seu cabelo! – estranhei Rose tê-lo
chamado pelo primeiro nome, e olhei para ela desconfiado. Ela apenas deu de
ombros. Os olhos do Malfoy se arregalaram, e ele passou desesperadamente a mão
pelo cabelo. Eu queria muito dar uma boa gargalhada, mas no mesmo instante a
porta foi aberta com brusquidão, e minha mente captou a enrascada em que eu me
encontrava. Porra, eu participaria do Torneio Tribruxo!
POV Terceira Pessoa
– ALBUS NÃO VAI PARTICIPAR DESSE TORNEIO. – todos no Salão Principal
ouviram muito bem o berro de Harry Potter, e alguns até mesmo tremeram de medo.
A fúria na voz do homem era praticamente palpável. Dentro da antecâmara,
estavam a família Potter, que fora imediatamente chamada por um patrono da professora
Minerva assim que o Quarto campeão havia sido escolhido. Harry Potter abrira
com fúria as portas daquele Salão, caminhando exatamente pelo mesmo caminho que
percorrera vinte e oito anos antes. Sua mulher, Gina Weasley, ao contrário do
marido, mantinha-se calma e tinha uma expressão serena no rosto. Era sempre
assim: quando um estava nervoso, o outro estava calmo. Gina, assim que vira o
olhar em pânico do marido ao receber o patrono, prontamente havia adotado uma
postura tranquila, apesar de por dentro sentir as borboletas se revirarem em
pânico.
– Harry, tenho certeza que você, melhor que qualquer um aqui, entende
que não há maneiras de reverter a escolha do Cálice. – ia dizendo a Prof.
McGonagall, que mesmo com a voz suave, tinha uma expressão preocupada. – Estão
nas regras que...
– Exatamente, Professora! Sei exatamente como é ser o Quarto Campeão, e
você pode ter certeza que não quero isso para o meu filho! – Albus revirou os
olhos. Já estava se irritando com o excesso de proteção do pai. Afinal, não
havia como Lorde Voldemort ressurgir, já que o próprio Harry já havia se
certificado de que isso nunca aconteceria.
Mas Albus conhecia seu pai há dezessete anos, e sabia muito bem que
contrariá-lo naquela situação não era uma boa ideia. Ficou, portanto, calado,
durante os próximos vinte minutos, quando os adultos finalmente entraram num
consenso.
– Muito bem, então. Em todas as provas do Torneio, terão a presença de
aurores. Se algo der errado, eles terão permissão para agir. – o sr. Potter não
parecia muito contente, mas sabia que nada mais poderia ser feito. Pediu,
então, para conversar a sós com o filho, pedido que prontamente foi aceito por
todos ali.
POV Rose
– Hei, tia Gina. Você poderia avisar aos meus pais que fui escolhida
para o Torneio? – pedi enquanto saíamos da antecâmara, deixando Albus e tio
Harry lá dentro conversando. Era muito estranho ter todo o Salão Principal num
silêncio tenso, mas ignorei, caminhando com minha tia até a saída do Salão.
– Claro, Rose. Mas por que você mesma não manda uma carta para eles?
– Você sabe como a minha mãe é. Se você estiver com ela, vai poder
acalmá-la. - ela soltou uma risada baixa, concordando comigo.
– E o seu pai?
– Ah, esse não tem jeito. De uma maneira ou de outra, ele vai acabar
desmaiando. – tia Gina riu com gosto agora, atraindo a atenção de praticamente
todo o Salão, que continuava num silêncio mórbido. Ignoramos e continuamos
conversando, imaginando como seria a reação do meu pai. Depois de alguns
palpites, ouvimos o barulho inconfundível de uma porta sendo aberta, e lá no
fundo do Salão, avistamos tio Harry e Albus saindo da antecâmara. Os dois
tinham a expressão feliz, o que confundiu muitos ali no Salão, que esperavam
que tio Harry tivesse dado uma boa surra no Albus. Os dois vieram em nossa
direção, e tia Gina se precipitou para abraçar Albus. Resolvi deixar a família
em paz, e fui em direção à mesa da Sonserina, me sentando entre Scorpius Malfoy
e Luke Zabini.
– E aí, tirou o chiclete do cabelo? - perguntei, rindo, assim que me
sentei. Duas garotas que estavam sentadas em nossa frente - sendo uma delas a
loira falsificada que falara com o Malfoy no Salão Comunal ontem - me olharam
torto, mas Zabini, o melhor amigo do Malfoy, me cumprimentou com um aceno de
cabeça.
– Que chiclete? - perguntou Luke, ao mesmo tempo em que o Malfoy adotava
uma expressão mal humorada.
– Engraçadinha você, não é. - disse, irônico.
– Você sabe, eu tento. – respondi no mesmo tom.
– Qual é a do Potter hein? Querendo… - Luke começou.
– Ah, cala a boca. – vociferei para ele. – Ele não se inscreveu no
Torneio.
– Ah, não. Então quem o inscreveu? Um comensal disfarçado de professor?
- sua voz era totalmente irônica. Tentei manter a calma, mesmo que sua
expressão zombeteira me irritasse.
– Estamos tentando saber o que aconteceu ainda. – falei aparentando
calma.
– É bem óbvio o que aconteceu, Granger. – Maria Baldança falou. Olhei
para o lado oposto da mesa, para meu lado direito, e a vi se inclinar sobre a
mesa. – Seu parentesinho acha que você não seria capaz de competir no Torneio,
e querendo garantir a glória para sua família, se inscreveu. - ao contrário do
Zabini, a Baldança não me irritava, pois já estava acostumada ao seu jeito
venenoso. Mas não pude deixar de sentir um pouco de raiva com as injustiças que
ela falou.
– Vou falar o que tem
que acontecer, Baldança. Você calar a merda da sua boca. - fui muito mal
educada, eu sei. Mas meus limites com aquela garota já tinham passado há muito
tempo.
– Olha aqui Granger... - ela ia me ameaçar, era obvio. A idiota tomou folego
para continuar falando, mas eu a ignorei, virando o rosto para o outro lado,
encontrado os olhos do Malfoy que refletiam surpresa.
– Então, Scorpius, como vai a vida? - ele riu com a pergunta sem nexo, e
eu acabei rindo junto com ele.
– Vai bem, obrigado, e a sua? - deu uma de educado.
– Aaaaah, vai bem. Você acreditaria se eu dissesse que fui escolhida
para o Torneio Tribruxo?
– Acreditaria. E você acreditaria se eu dissesse que eu também fui
escolhido para oTorneio Tribruxo?
– Sim. - respondi, rindo. A gente tava sendo idiota, e Luke, as duas
garotas que me olharam com cara feia e mais uns dois garotos olhavam para a
gente como se fôssemos loucos, mas nem ligamos.
– Então, inimiga, vamos indo para
o Salão Comunal? Estou cansado. - sua voz era maliciosa e eu sabia que aquela
era apenas uma desculpa. Ele se levantou e, sem esperar por resposta, estendeu
a mão para mim. Rindo levemente, aceitei a mão estendida, saindo com ele do
Salão, deixando pra trás uma garota metida fumegando de raiva por ter sido tão
idiotamente ignorada, e uma família de ruivos olhando boquiabertas para nossas
mãos entrelaças.
– Sabe, amanhã todos vão comentar. - comentou ele despreocupadamente.
– Sobre o quê? - olhei seu rosto enquanto caminhávamos, fingindo-me de
confusa.
– Sobre nós. - sorri internamente. Isso era obvio, e era exatamente o
que eu queria.
– Mas nós não temos nada.– falei,
brincando.
– Não? - franziu as sombrancelhas, realmente confuso.
– Não. - afirmei. Ele deu um sorriso torto, parando completamente de
caminhar, e se aproximou lentamente de mim, com um sorriso provocador.
– Tem certeza? - sua boa ficou muito próxima a minha, eu sentia seu
hálito de menta e suco de abóbora (que ele provavelmente tinha tomado no
jantar), tentei me aproximar, mas ele se afastou um pouco, mantendo distância
entre nossos lábios. Gemi impaciente. - tem certeza? - repetiu. Eu, mais por
birra do que qualquer outra coisa, respondi desafiadora:
– Tenho. - juro que algo passou pelos olhos do Malfoy, mas então ele
sorriu divertido, e se afastou completamente de mim, virando de costas. - Bobo!
Scorpius, vira pra mim! - ele continuou de costas, e eu podia jurar que ele
ainda estava sorrindo. - Scorpius! Ah, é assim é? Então ta, vai ser pelo jeito
difícil mesmo. - não o fiz se virar para mim, pois sabia que não teria força o
suficiente, portanto fiz pelo jeito difícil: contornei seu corpo, passando
rapidamente minhas mãos por seu pescoço, e o beijando antes que ele continuasse
com aquela brincadeirinha.
E no instante seguinte uma loira aguada pulava em cima de mim, tentando
a todo custo arrancar meus cabelos.
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