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AVRW - Capítulo 14


Ansiedade
Albus estava sério. Conhecia meu primo e aquele humor era a melhor forma de me fazer querer sair dali correndo.
– Por… quê está perguntando isso?
– Você o chama pelo primeiro nome. E agora há pouco estava de mãos dadas com ele! – ele falava freneticamente, as mãos se movimentando tão rapidamente quanto as palavras saíam de sua boca.
– Al… – demorei um segundo para continuar. – Nós estamos nos conhecendo. – que coisa estúpida de se dizer, mas é que nada melhor vinha à minha cabeça. Quero dizer, de qualquer forma, eu já estava preparada para o que viria.
– CONHECENDO? NÃO SE CONHECE O MALFOY, ROSE. Quero dizer, conhece-se o suficiente para se manter LONGE. Principalmente você! – um formigamento subiu por meu pescoço. Albus sabia tocar em meu ponto fraco porque ele sempre o alcançava quase que indiretamente. Vamos dizer de forma sorrateira.
– As coisas mudam Al… ele pode ter mudado assim como eu.
– Mudou o suficiente pra esquecer o jeito que ele te tratava?
– Apenas o suficiente para deixar pra trás. Éramos crianças e crianças machucam umas as outras. Não posso guardar mágoa por ele pelo resto da vida. Estamos tendo a chance de nos conhecer agora, de uma forma verdadeira. – desejei que minhas palavras fossem verdadeiras. Desejei que eu realmente sentisse todas aquelas coisas, que meu rancor tivesse embarcado em uma viagem sem volta para longe e estava pronta para perdoar e conhecer o Scorpius bom que ele estava se mostrando ser. Mas o Scorpius mal ainda estava vívido em minha mente e eu simplesmente não podia esquecer - e nem queria.
– Não existe disso, Rose. Ele só está com você porque você voltou do nada e, de quebra, bonita. - disse, um tanto sem graça.
– Ele não vai me magoar, Al. Isso que importa. - ele deixou os braços caírem pesadamente ao lado do corpo claramente revoltado com minhas palavras. Será que elas soavam tão estúpidas assim? - Quero dizer…
– Você é mais inteligente que isso Rose. Se afasta do Malfoy…
– Não posso fazer isso. Eu não consigo. – Albus abriu a boca tentando dizer algo e logo depois tornou a fechá-la. – Você pode apoiar e chutar o traseiro dele se ele fizer algo estúpido. – tentei quebrar o clima tenso.
Seu olhar se demorou em mim e logo depois ele gargalhou.
– Vou chutar mais que o traseiro dele, Rose.
– Ei rapazinho. – a voz arrepiante do estranho zelador de Hogwarts chamou nossa atenção. Desviamos em sua direção e a pele de seu rosto parecia ainda mais ressecada que a primeira vez que eu o vira.
– Não pense que não vou comunicar à Diretora que está fora de sala em horário de aula! - resmungou autoritário e Albus concordou ao meu lado.
– Já estou indo, senhor. – falou baixo. Enquanto caminhava na direção de uma escada próxima, olhou para mim e pronunciou duas palavras que fizeram os cabelinhos da minha nuca eriçarem:
– Conversaremos depois.
Conversar depois. Já previa os sermões que receberia de Albus. Precisava fazê-lo mudar a direção de sua atenção para outra coisa, qualquer que fosse.
(...)
– Psiuu… Rose? – estava passando por uma das prateleiras da Biblioteca. Dei um passo para trás encontrando Friedrich.
– Ah, oi. – soltei surpresa por sua presença ali. Fritz era o tipo que ficava o mais longe possível de livros. – O que faz aqui?
– Nada a fazer. Sem poder fazer o que eu mais gosto…
– Quadribol. – soltei rapidamente e ele sorriu.
– É. Estava pensando em ir falar com a diretora daqui. Pedir licença para utilização do campo nos horários em que os alunos daqui estão em aula. Você acha que ela concordaria?
Meneei a cabeça afirmando.
– Provável Fritz, só falar com jeito. E afirmar que não se dedicarão exclusivamente a isso - como sei que quer fazer. – frisei fazendo-o rir. – Não pode ser seu objetivo aqui.
– Você me conhece bem. – balancei os ombros dando um sorriso travesso para ele.
– Nada sobre você que eu não saiba.
– Tisc tisc, algumas coisas mudam com o tempo e… há quanto tempo mesmo está me evitando?
– Eu não estou te evitando! – rebato sem graça e cruzo os braços na frente do corpo. – De onde tirou isso?
– Nem te conto. – riu-se levando a própria mão em direção a minha e um segundo depois me puxava para si. Por um momento, temi que meus antigos sentimentos viessem a tona, mas constatei, feliz, que nada senti com aquele gesto. Fritz era passado e cada vez mais eu percebia isso.
– É verdade, eu tenho te evitado. – falei normalmente e dei um leve empurrão em seu peito, cruzando meus braços numa posição defensiva. Seus olhos estavam sobre mim extremamente surpresos. Me senti um pouco estranha ao ter aqueles olhos esverdeados sobre mim tão intensamente. Não pelo modo como ele me encarava, mas por eu não sentir absolutamente nada. Eu sentia que minha máscara fria não era mais exatamente uma máscara. Eu não estava sentindo absolutamente nada com aquele olhar, e era isso que me fazia sentir estranha. – Você fica tentando… fica sempre falando da gente, do que aconteceu… e fica me agarrando. – resmunguei quando ele segurou meu braço e me puxou para si. Mais uma vez o afastei com uma expressão séria.
– Qual é, Rose.
– Você já me arrumou confusão suficiente ontem naquele jogo, Fritz. – ele riu. – É sério.
– Que culpa eu tenho se o marrentinho não confia no próprio taco? – marrentinho? Meu olhar nublou-se com aquilo.
– Não fale assim dele, por favor. – adverti o mais calmamente possível. Ele fez uma expressão estranha e analisou o meu rosto seriamente. Sua expressão passou para zombeteira em poucos segundos.
– Não acredito que está se apaixonando justamente pelo…
– Rose? – uma voz interrompeu o que ele iria falar. Dei um olhar de advertência para ele antes de me virar e me deparar com Albus.
– Al? Não devia estar na aula? – ele balançou os ombros parecendo não se preocupar com aquilo.
– Eu… não conseguia me concentrar. Tinha que falar com você.
– Depois a gente se fala, Rose. – Fritz tocou meu ombro e se afastou. Por um fugaz momento, senti a vontade de chamá-lo de volta. Mas bem, eu precisava enfrentar Albus uma hora ou outra: por que não agora?
– Tudo bem. – falei acompanhando-o com o olhar enquanto se afastava. – E então? – sorri me virando para Albus.
– E então o quê?
– O que você queria falar comigo.
– Ah… bem, Rose, eu queria… você sabe… – me olhou, como se realmente soubesse o que estava falando. Encarei ele completamente perdida: se ele não iria me passar um sermão, como eu supusera, o que ele queria?
– Não, Albus, eu realmente não sei do que você está falando. – disse calmamente.
– Ok… er… Merlim! Isso é muito constrangedor! – sorri divertida ao ver as bochechas de Al pegando fogo. Agora eu já tinha uma ideia do que ele queria, apenas não sabia com quem. E eu não ajudaria nadinha ele a chegar nesse assunto.
– Albus, você precisa de ajuda em alguma coisa? – seu rosto se iluminou, como se imaginasse que eu adivinhara o que ele queria. – Está com dificuldade em alguma matéria? – e sua expressão murchou novamente. Contive uma bela gargalhada, estava realmente me divertindo com seu desespero.
– Tudo bem, eu vou falar… eu-quero-sua-ajuda-com-uma-garota. – ele falou realmente rápido, mas eu entendi o que ele queria. Continuei me fazendo de desentendida.
– O quê?
– Eu quero sua ajuda com uma garota! – exclamou, alto. Não consegui mais evitar e tive que rir de sua expressão. – Do que você está rindo? – perguntou, e não soube muito bem se estava encabulado ou com raiva.
– Ai, Albus… eu entendi o que você queria faz um tempinho. – confessei entre risos. Ele fechou a cara, e minha teoria de que ele estava com raiva se confirmou. – Mas diga, quem é? – perguntei mais animada.
Ele retomou à encabulação anterior e então forçou um sorriso.
Ele respondeu, mas tão baixo, que desta vez eu realmente não ouvi.
– Quem?
– Sophie. – respondeu, mais alto. Meus olhos se arregalaram e eu fiquei por um momento em choque. Fui pega de surpresa, confesso. Meu rosto se iluminou de compreensão e eu, sem conseguir evitar, dei um pequeno gritinho, correndo para abraçar Albus.
– Isso é maravilhoso, Al! Será ótimo ter Sophie na família! – meus olhos deviam estar brilhando, sem dúvidas. Albus se desvencilhou, aturdido.
– Epa, epa, epa, Rose Weasley, estou pedindo ajuda para sair com ela, não para pedi-la em casamento! – seus olhos estavam arregalados ante essa perspectiva, mas eu não liguei. Realmente, Sophie e Albus formavam um belo casal, e eu faria de tudo para juntá-los.
(....)
– No que você está pensando? – perguntou Scorpius, observando minhas unhas subirem e descerem por seu braço. Era um sábado e estávamos deitados em sua cama no dormitório - ambos completamente vestidos. Meu rosto estava deitado em seu peito e uma de suas mãos acariciava meu cabelo, enquanto eu fazia carinho na outra que estava esticada. Estávamos em silêncio há um bom tempo, e continuei por mais uns segundos sem falar nada. Por fim, respondi:
– Estou preocupada com o Torneio. – falei o mais calmamente que pude. Ele parou com o cafuné por um momento, mas eu soltei um pequeno gemido de protesto e ele voltou a massagear.
– Preocupada com o quê, exatamente?
– Oras, Scorpius, com tudo! – exclamei, angustiada.
– Você está com medo de morrer? – perguntou, baixa e calmamente. Indignada, me desvencilhei de seus braços, virando-me de frente para ele.
– É claro que não! Meu maior medo é que algo aconteça com você ou com Al, não comigo! – disse, um pouco alto por causa de minha indignação. Seu rosto, antes surpreso com minha mudança de espírito, se suavizou, e ele me puxou novamente para seus braços.
– Pois então não precisa se preocupar, nada irá acontecer comigo. – fiquei mais um momento em silêncio, voltando a passar delicadamente minhas unhas por seu braço. Era impossível não me preocupar, simples assim. Tudo o que eu queria era que nem ele e nem Albus estivesse naquele Torneio.
(...)
– Está preparada? – Sophie perguntou baixinho do meu lado. Ainda estávamos no quarto e eu encarava minha fisionomia meio amarelada no espelho. Encarei friamente o reflexo de Caterine que estava em pé nos observando a distância.
– Estou sim. – respondi para Sophie e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo bastante apertado. – To com uma sensação estranha na boca do estômago… isso é fome? – ironizei fazendo-a rir.
– Claro que sim. Certeza de que não vai comer nada? – concordei me virando para ela.
– Se colocar alguma coisa pra dentro, não sei se ela vai permanecer aqui. – batidas na porta e logo depois a cabeça de Aline aparecia. Tinha um sorriso imenso e sabia que ele estava ali apenas para me motivar.
– Bom-dia, Campeã. – revirei os olhos movimentando os dedos chamando-a para entrar. Ela negou fazendo o mesmo movimento que eu e fui em sua direção. Passei em frente a Caterine sentindo que ela me olhava.
Após fechar a porta atrás de mim, acompanhei Aline retirar do pescoço um colar de prata que ela nunca largava. O estendeu para mim e me inclinei para trás, surpresa.
– O que…
– É pra dar sorte. – rapidamente o ergueu na altura de meu pescoço e o pingente de uma fênix tocou a pele exposta de meu colo.
– Line. – falei com um sorriso retribuído por ela.
– E pra saber que eu estou com você, claro.
– Sei que está comigo. Isso é algo que nem se precisa dizer.
A abracei fortemente.
– Já se reconciliaram? – não respondi e ela deu um longo suspiro. - Rose, a última coisa que queria era atrapalhar a amizade de vocês.
– Mas você não atrapalhou nada. Apenas me mostrou que Caterine não é nada do que eu pensei. Não. – a interrompi sabendo que ela diria qualquer coisa que talvez me fizesse perdoar Caterine, mas aquilo, pelo menos por enquanto, parecia algo impossível. Ela concordou dando um largo sorriso e voltando a me abraçar.
– Boa sorte. Quero dizer, bom trabalho. E acabe com esses garotos. – ela me socou levemente no braço e gargalhei.
– Pode deixar, mostrarei para o que viemos. – voltei para o quarto pegando minha varinha e me olhei rapidamente no espelho mais uma vez. Aquele pouco tempo com Aline me fizera bem – estava mais corada que dois minutos antes.
– Rose? – a voz rouca de Caterine – que pegara uma bela de uma gripe na última semana – encheu meus ouvidos. Me virei e vi Sophie saindo rapidamente do quarto. – Boa sorte lá. – ela falou quando não falei nada e nossos olhares apenas se encontraram, de forma bastante diferente de duas semanas atrás. Era como se tivéssemos nos tornado duas estranhas.
– Obrigada. – aquela resposta, pequena e clara, foi a mesma que dei a todos os meus colegas enquanto me encaminhava para fora do Salão Comunal. A sensação de mal estar me tomou de vez quando pisei no gramado à frente da Escola. O vento parecia assobiar uma melodia estranha e obscura enquanto batia em meu rosto, como se protestasse minha presença ali; como se também me pedisse uma justificativa para ter abandonado aqueles terrenos.
– Tem certeza que não quer se juntar a mim? – Boris, com a maravilhosa mania de acabar com a suave pronúncia da minha língua natal parou ao meu lado. Demorei um segundo para me situar e compreender o que ele queria dizer com aquilo.
– Eu não vou sabotar prova nenhuma, Kubrat.
Ele elevou os ombros e os abaixou logo depois.
– Você quem sabe. Era melhor ter ficado ao meu lado. – foi a última coisa que disse antes de se afastar. Encarei suas costas levemente curiosa em saber se aquilo havia sido uma ameaça, pois havia soado como uma. Que ele tentaria algo contra Al e Scorp eu já estava ciente, desde que ele viera falar comigo pela primeira vez. Problemático seria, caso ele desejasse aprontar comigo também.
Naquela prova, não tinha certeza se conseguiria me concentrar totalmente. Estava com aquele mal pressentimento e agora Kubrat ficava nessas insinuações. Mas até o fim da prova, saberia do que aquele garoto era capaz.
– Pronta, rival? – meus devaneios foram interrompidos por Scorpius. Seu braço estava ao redor de minha cintura e ele beijou delicadamente minha fronte. Tentei forçar um sorriso, mas meus músculos pareciam se recusar a tal ato. - Parece que não.
– Não acordei bem, Scorp. Só isso. Estou com um mal pressentimento. – ele me olhou um momento, antes de depositar um beijo demorado em meus lábios.
– Relaxa Rose, além do fato de que eu conseguirei uma nota melhor que a sua nessa prova, nada demais irá acontecer. – finalmente uma gargalhada saiu naturalmente de mim naquela manhã fria.
– Vai sonhando. – falei achando graça.
– Bora mané, hoje não tem namorico pra vocês não. – Luke chegou, escandaloso como sempre, bagunçando o cabelo de Scorpius. Este xingou o amigo antes de me dar um último beijo e correr atrás de Luke, lhe dando um tapa na cabeça.
Sophie apareceu ao meu lado e segurou minha mão, me puxando na direção da Floresta Proibida. A professora McGonagall pedira aos Campeões na noite anterior, que às oito horas em ponto, os quatro estivessem na barraca que estaria montada em frente à Floresta.
Agora ali estava eu, caminhando como quem caminha para a morte.
– Seja lá o que for, arrase. – Soph sussurrou para mim e deu um beijo em meu rosto logo antes de se afastar.
Entrei na cabana me deparando com os outros três Campeões. Albus estava meio amarelo e parecia nervoso, movimentando as mãos pelos dois minutos que se seguiram enquanto aguardávamos qualquer pessoa entrar. Olhei para Kubrat no canto da tenda, mas ele estava imerso em devaneios e sequer reparou que eu o observava. Scorpius parecia muito feliz testando sua varinha do outro lado da tenda. Não me restou alternativa que não fosse me sentar em um dos bancos de madeira que havia ali e esperar.
– Bom dia, senhores. – McGonagall finalmente chegou acompanhada do senhor Hadwin e da senhora Rodrigues.
O senhor Hadwin, Chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia, já era um senhor de idade, mas aparentava ter possuído beleza quando jovem. A senhora Rodrigues, em oposição, parecia uma adolescente de vinte anos – coisa que obviamente não era, considerando ser Chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos.
Após as apresentações, as instruções foram dadas. Ovacionados, saímos da tenda dos Campeões em direção a pontos distintos para entramos na Floresta Proibida. Com vontade de segurar meu coração para que este não saísse por minha boca, escutei as cinco palavras que fizeram meu terror aumentar.
– Que comece a primeira prova.
No meu dizer: que comece o show!

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